Entrevista: Michael Coggins, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Boeing
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Para executivo, escolha do Super Hornet no Projeto F-X2 irá reforçar relações entre o Brasil e os EUA
Por Vinicius Pimenta
Colaboraram Leonardo Jones e Rodrigo Bendoraytes
De competidor desacreditado à finalista no F-X2. Essa foi a grande virada da norte-americana Boeing, uma das três empresas que disputam o bilionário contrato de fornecimento de 36 novas aeronaves de combate para a Força Aérea Brasileira. Se no início praticamente não havia quem acreditasse que a gigante da indústria aeroespacial pudesse sobreviver à primeira fase da competição, hoje o F/A-18 E/F Super Hornet já é visto por muitos como um fortíssimo candidato a equipar a aviação de caça brasileira.
As razões de tamanha desconfiança não são por acaso. O Brasil exigirá do vencedor um amplo programa de compensações comerciais e de transferência de tecnologia. O país quer garantir uma maior independência na operação das aeronaves, inclusive com a possibilidade de integração de armamentos brasileiros, além de alavancar a capacidade da indústria brasileira de competir no multibilionário mercado mundial de defesa. É justamente nesse ponto que se acreditava que a proposta norte-americana esbarraria em tradicionais restrições impostas pelo Governo dos Estados Unidos a esse tipo de acordo. De acordo com os executivos da Boeing, esbarrava.
“Todas as tecnologias já foram aprovadas para liberação.”, garante Michael Coggins, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Boeing, o principal responsável pela articulação entre a empresa e a indústria brasileira. Ele afirma que a possível venda do Super Hornet ao Brasil é diferente de outras negociações no passado. “A diferença entre esta venda e quaisquer outras que vieram antes é o fato de que a aquisição do Super Hornet trata-se de uma venda de Governo para Governo através do processo Foreign Military Sales”, disse. De acordo com o executivo, o Governo dos Estados Unidos é obrigado a resolver todas as questões de autorizações e políticas antes de entrar em uma concorrência do tipo. “É uma proposta do Governo dos Estados Unidos e não da Boeing.”, afirmou. Coggins “[A escolha do Super Hornet] irá reforçar a relação entre as maiores economias e Forças Armadas das Américas do Sul e do Norte.”, completou.
De passagem pelo Brasil, onde deu continuidade às conversações com empresas brasileiras, ele concedeu com exclusividade uma entrevista ao Defesa Brasil. O executivo falou sobre a proposta norte-americana ao País, transferência de tecnologia, produção local e integração de armamentos nacionais no F-18 E/F Super Hornet.
Leia a íntegra da entrevista:
Defesa Brasil - Segundo Bob Gower (Vice-Presidente do Programa Super Hornet), na proposta da Boeing ao Brasil foram incluídos 28 projetos com 25 empresas brasileiras. É possível listá-los ou indicar os principais projetos e empresas? O que já foi conversado com a Mectron, Embraer, Avibras, entre outras?
Michael Coggins - Os projetos vão desde pura pesquisa de tecnologias envolvendo materiais avançados e aerodinâmica supersônica para o trabalho de design de upgrades, modelagens e de simulação do Super Hornet, até a fabricação dos subcomponentes da aeronave para manutenção e suporte de todo o programa Super Hornet.
Os parceiros foram escolhidos com base nas suas atuais capacidades e os seus objetivos estratégicos no setor aeroespacial. É óbvio que os principais fornecedores citados são líderes em seus respectivos campos e outros devem ser acrescentados à lista como ATECH e Aeroelectronica, por exemplo.
DB - O subsecretário de Estado para a América Latina, Tom Shannon, afirmou que a compra do Super Hornet representaria um offset de 117 projetos apenas no âmbito da Embraer. Seria possível apontar de maneira geral o que englobariam esses projetos? Qual a diferença entre esses 117 projetos com a Embraer e os outros 28 projetos com 25 empresas brasileiras citados por Bob Gower?
MC – Nossa proposta original de offset incluía mais de uma centena de aplicações potenciais. Depois de discussões com a FAB nas reuniões de esclarecimento em março, nossas iniciativas foram agrupadas de modo que cada projeto exibisse cada elemento do ciclo de vida e pudesse ser considerado "sustentável", com valor econômico a longo prazo.
DB - Northrop e General Electric foram apontadas como exemplos de possíveis parceiras de empresas brasileiras no projeto do F-X2. Quais seriam os projetos e quais os seus parceiros nacionais?
MC - Na verdade, todos os membros da parceria industrial do Super Hornet foram trazidos para apoiar e beneficiar o programa de offsets. A GE tem, obviamente, projetos relacionados com o motor e Northrop vários outros extensos projetos de materiais e fabricação.
DB - Em relação à GE, haveria alguma possibilidade de produção dos motores F414 na subsidiária da empresa no Brasil, a GE Celma, ou ao menos sua capacitação para o overhaul desses motores?
MC - Montagem, manutenção e teste dos motores serão feitos no Brasil.
DB - Ainda sobre as turbinas, em maio deste ano foi noticiado que a Boeing estudava oferecer aos futuros clientes estrangeiros do Super Hornet a dotação de motores GE F414 modificados (Enhanced Durability Engine - EDE), capazes de desenvolver uma potência máxima 20% maior do que o motor utilizado atualmente. Esse modelo de motor foi oferecido ao Brasil?
MC - Não foi oferecido uma vez que não foi uma exigência do RFP.
DB - Também em maio deste ano, foi noticiado que a Lockheed Martin desenvolveria um novo IRST para o Super Hornet. Este sistema foi incluído na proposta para o Brasil?
MC - O maior benefício com a compra do Super Hornet é que o Brasil vai ter a vantagem de mais de US $ 1 bilhão em investimentos programados que os Estados Unidos vão fazer no desenvolvimento de melhores capacidades. O governo brasileiro irá se beneficiar de não ter que financiar este desenvolvimento e irá beneficiar a indústria brasileira ao participar do desenvolvimento e da produção de novos sistemas. Nenhum outro sistema na concorrência pode oferecer os benefícios que o Super Hornet pode oferecer. O Brasil pode decidir quais os itens que vai querer e quais os itens que não fazem sentido para ele.
DB - O F-X2 prevê a compra de apenas 36 aeronaves, mas o escolhido provavelmente receberá no futuro encomendas adicionais com o potencial de até 120 aeronaves. Segundo Jim Albaugh (Presidente da divisão de defesa da Boeing), a proposta da Boeing prevê a produção no Brasil de “grande parte” componentes do Super Hornet, em caso de vitória no F-X2. O que a Boeing considera “grande parte”? Que componentes seriam produzidos no Brasil? Qual o índice de nacionalização previsto? Em caso de lotes posteriores, seria possível aumentar ainda mais a quantidade de componentes produzidos no Brasil?
MC - A indústria brasileira vai construir porções significativas da fuselagem, das asas, irá integrar armamentos n a plataforma e dará suporte à operação da aeronave. A indústria brasileira foi quem selecionou esses itens como os que mais agregarão valor a curto e longo prazo para suas empresas.
DB - Um dos pontos-chave das exigências do Brasil é o acesso à partes do código-fonte da aeronave que permitiriam a integração no Brasil de armamentos nacionais. A Boeing incluiu essa possibilidade na proposta e já tem todas as autorizações necessárias para isso?
MC - O governo dos Estados Unidos aprovou a integração de armas brasileiras na plataforma, com a indústria brasileira fazendo o desenvolvimento do software.
DB - O radar Raytheon AN/APG-79 AESA que equipa o F/A-18E/F Block II é considerado um dos mais modernos em uso atualmente e com isso torna-se um equipamento de certa forma sigiloso. A proposta da Boeing para o Brasil oferece alguma transferência de tecnologia deste equipamento? Caso positivo, em que nível seria?
MC - O radar AN/APG-79 AESA é o mais avançado AESA em produção hoje (e não "um dos"), estando aprovada sua liberação ao Brasil e incluído na proposta. Este é um grande exemplo do grande avanço no processo liberação já aprovado pelo Governo dos Estados Unidos.
DB - Os AIM-120 e AIM-9X são os principais mísseis do Super Hornet para o combate aéreo. Qual a versão do AIM-120 oferecida ao Brasil? Algumas fontes especializadas divulgaram que a venda do AIM-9X foi vetada, essa informação é verídica? Caso seja, qual o motivo e qual a versão ofertada?
MC - O Brasil preferiu integrar seus próprios mísseis WVR no lugar do AIM-9X e o Governo dos Estados Unidos aprovou, já que isso é consistente com a vontade de expandir a capacidade da indústria brasileira.
DB - E os AIM-120?
MC - O Brasil preferiu integrar seus próprios mísseis.
DB - Qual armamento está sendo oferecido para combater objetivos terrestres? No pacote estão incluídos os mísseis JSOW, SLAM-ER e bombas JDAM?
MC - Você pode checar com a FAB.
DB - Até hoje não saiu a notificação da DSCA ao Congresso dos Estados Unidos sobre a possibilidade de venda (FMS) do Super Hornet ao Brasil. A que se deve essa falta de notificação? Não seria um sinal de que a proposta ainda não conta totalmente com o aval do governo norte-americano?
MC - No caso do Brasil, o Governo do Estados Unidos está realmente acelerando o processo como um sinal do seu desejo de uma relação militar mais estreita. Esperamos que a notificação aconteça em breve. Não é exigida uma ação do Congresso para obter aprovação. A notificação ao Congresso é normalmente feita imediatamente antes da apresentação de uma Carta de Oferta e Aceitação pelo Governo dos Estados Unidos ao país interessado em adquirir o equipamento.
DB - A maior desconfiança de alguns militares e especialistas brasileiros e de parte da imprensa especializada é com relação a possibilidade de vetos norte-americanos a projetos brasileiros ou a transferências de tecnologias mais sensíveis. Vetos que não ocorreram apenas no passado. Ainda em 2008 houve problemas com a importação de determinados produtos para o míssil nacional MAR-1, por exemplo. A Boeing pode garantir que esta política mudou e agora o Brasil terá acesso mais facilitado a armamentos e tecnologias de ponta por parte dos Estados Unidos?
MC - A diferença entre esta venda e quaisquer outras que vieram antes é o fato de que a aquisição do Super Hornet trata-se de uma venda de Governo para Governo através do processo Foreign Military Sales. O Governo dos Estados Unidos é obrigado a resolver todas as questões de autorizações e políticas antes de entrar em uma oferta vinculativa, o que é exatamente o que aconteceu no programa Super Hornet. Todas as tecnologias já foram aprovadas para liberação e todo detalhe do programa, tal como descrito na proposta dos EUA, tem o total apoio e boa fé do Governo dos Estados Unidos.
DB - Em março deste ano, foi noticiado que o houve sete “vetos políticos” dentre as mais de 2 mil licenças do Super Hornet. Quais seriam esses vetos especificamente ou que tipo de coisa eles permitiriam ou não permitiriam que o Brasil fizesse?
MC - As duas mil licenças não são relacionadas com o Super Hornet e nós não temos qualquer conhecimento sobre essas licenças que foram negadas. Proteger uma licença é geralmente um processo administrativo que é guiado por decisões políticas. No caso do Super Hornet F/A-18E/F, todas as políticas, autorizações e aprovações estão em ordem para apoiar a proposta do Super Hornet para o Brasil.
DB - Qual é o diferencial da proposta da Boeing? Por que o Brasil deveria escolher o Super Hornet?