Air France 447 - Voo 447: governo francês será responsável pela investigação; especialistas apontam hipóteses para acidente com avião da Air France
SÃO PAULO, BRASÍLIA e GENEBRA - A Aeronáutica confirmou a informação de que o governo francês será responsável pela investigação sobre o acidente com o avião da Air France, por meio do órgão de investigação Bureau D'enquêdes et D'analises. O órgão terá o apoio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Ainda segundo a aeronáutica, já estão no Brasil dois investigadores do órgão francês, que contam do apoio do serviço de investigação aeronáutica brasileiro.
Enquanto não se descobrem as causas do acidente com o Airbus da Air France, especialistas de todo o mundo levantam hipóteses para a tragédia. No Brasil, o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa), George Sucupira, acredita que o Airbus tenha se desintegrado no ar depois que uma forte turbulência abriu um buraco na fuselagem, causando despressurização. Segundo ele, isso explica o aparecimento de algumas peças em uma faixa longa do oceano, levadas pela correnteza.
- O avião enfrentou uma forte turbulência e, em seguida, houve a despressurização, com a fratura de alguma parte da fuselagem. A pane elétrica e uma série de outras panes aconteceram em seguida, quando a aeronave, provavelmente, já estava se desintegrando no ar. Desintegrar é como uma explosão sem fogo, provocada por uma fratura na estrutura da aeronave - disse Sucupira, acrescentando que um radar poderia ter detectado a nuvem carregada e evitado o acidente.
O Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) concluiu na tarde desta terça-feira um estudo sobre a provável causa do acidente, utilizando imagens de satélite, dados da rede mundial de detecção de raios (WWLLN) e da trajetória provável do voo. A conclusão segue a mesma linha da do presidente da Appa: uma turbulência teria causado a tragédia. As hipóteses de granizos e raios foram descartadas pelo climatologista Osmar Pinto, coordenador do grupo do Inpe. De acordo com o especialista, a turbulência é normal na área e o avião poderia ter se desviado dela, caso tivesse radares operantes.
- Ou o radar não operava ou o piloto não o utilizou. A aeronave parece ter entrado em cheio em uma nuvem que poderia ter sido evitada por um radar operante - afirmou Pinto.
Dois jatos da Lufthansa que passaram meia hora depois pela mesma rota do avião da Air France devem dar pistas para a investigação, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). A agência climática da ONU afirmou nesta terça-feira que tem informações preliminares indicando que as duas aeronaves registraram dados sobre a temperatura e os ventos. As aeronaves, no entanto, não estavam equipadas para transmitir automaticamente informações sobre a turbulência.
Herbert Puempel, chefe da divisão de meteorologia aeronáutica da OMM, disse que é altamente improvável que um raio ou o mau tempo tenha causado o acidente, mas esses fatores podem ter contribuído.
- Dois aviões da Lufthansa estavam nos arredores, mas, como não sabemos o lugar exato do acidente, é extremamente difícil dizer o quão perto eles estavam - disse Puempel à agência Reuters.
Mais de cinco mil aeronaves coletam dados para o Aircraft Meteorological Data Relay Programme, da OMM. Trata-se de um programa de transmissão de dados meteorológicos por aeronaves, o Amdar, na sigla em inglês. Os dois aviões da Lufthansa participam do sistema, mas não o voo da Air France, de acordo com a agência, sediada em Genebra. Os dados servem para a previsão do tempo e para os sistemas de alerta contra desastres naturais.
- Catástrofes acontecem, mas existem equipamentos para detectar uma nuvem carregada - acrescentou Puempele.
Para Sucupira, da Appa, o sistema Transmissor Localizador de Emergência (RLT, na sigla em inglês) - que emite um sinal de localização da aeronave em situações de emergência - pode ter se desintegrado e, por isso, não teria sido acionado.
Apesar dos recentes acidentes aéreos, Sucupira disse que o índice de desastres no Brasil é pequeno e assegurou que a aviação nacional é segura. Segundo ele, técnicos da Organização Internacional da Aviação Civil ficaram duas semanas no Brasil recentemente e deram boa nota ao país.
- A organização ficou 14 dias no Brasil e deu nota 8,4, o que nos coloca em quinto lugar no mundo, perdendo só para Coreia do Sul, Canadá, Estados Unidos e Alemanha. A nota foi dividida pelo Departamento de Controle de Espaço Aéreo (Decea), Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O Decea tirou 9,5, o Cenipa, 9,6 e a Anac mais de 70 - disse Sucupira.