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Air France 447 - Voo 447: Especialistas defendem mudanças de rotas devido a tempestades

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RIO - Depois da tragédia do voo 447, especialistas defendem que sejam feitos estudos para o redirecionamento de rotas aéreas durante períodos do ano em que a Zona de Convergência Intertropical é mais intensa. Análises feitas a partir de imagens captadas por um satélite meteorológico da Eumetsat (Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos) revelaram uma trágica coincidência: no momento em que o Airbus da Air France entrava na banda de nuvens da Zona de Convergência Intertropical houve um rápida intensificação da tempestade, que pode ter surpreendido o piloto.

Os dados foram captados pelo satélite Meteosat-9 e processados pelo laboratório de recepção e processamento de imagens de satélites (Lapis), na Universidade Federal de Alagoas. Com base nas imagens captadas no momento em que o voo AF 447 cruzava a região do Atlântico, o coordenador do Lapis e doutor em sensoriamento remoto pela Universidade do Arizona (EUA), meteorologista Humberto Alves Barbosa, acredita que a aeronave pode ter enfrentado condições meteorológicas adversas de rápido desenvolvimento que podem ter desempenhado um papel importante no acidente.

Para Barbosa, que iniciou um estudo de caso com base no acidente, a situação de tempo severo no momento do acidente pode ser decisiva para explicar a tragédia. Ele explicou que alguns dos cúmulos-nimbos podem ter se intensificado muito rapidamente durante a passagem do avião.

Avião pode ter encontrado condições únicas

" Essas tempestades de rápido desenvolvimento e, muitas vezes, inesperadas, podem ter desempenhado um papel importante no acidente "

Segundo cálculos feitos a partir dos dados do satélite, a temperatura dos topos das nuvens chegava a 83 graus negativos na região do acidente, influenciada por pulsos da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Essas condições não poderiam ser previstas com antecedência. Pode ter havido condições únicas encontradas pelo avião na passagem da região, que apresentava alta turbulência. Este padrão de temperatura é frequentemente visto com tempestades que produzem granizo e intensas correntes de ar ascendentes e descendentes.

- Essas tempestades de rápido desenvolvimento e, muitas vezes, inesperadas, podem ter desempenhado um papel importante no acidente. É uma situação muito rara numa área de rota de voo - diz o meteorologista Humberto Alves Barbosa.

Segundo ele, a temperatura do mar na região do acidente também é outro fator que ajudou a ZCIT a ficar mais intensa:

- Em média, a temperatura da região estava próxima dos 28 graus Celsius, o que é uma temperatura crítica para formação de tempestades tropicais.

Desvio de rota aumenta gasto de combustível

Por meio de gráficos que mostram um histórico da evolução da frequência de tempestades na região e das variações de anomalias de temperaturas do Atlântico, Barbosa explica que, de 1910 a 2009, a temperatura do Atlântico subiu 1,2 grau Celsius. Coincidentemente, as tempestades na região aumentaram em média de 6 para 16.

Para o ex-piloto Carlos Germano, o reexame das rotas na região deverá ser um dos resultados da investigação:

- O tráfego aumentou muito e a situação meteorológica também tem se modificado bastante. Estas rotas de longa distância têm hoje um certo limite de autonomia que não permite longos desvios. Isso tem que ser reavaliado. A única forma plausível é evitar a proximidade do avião com os fenômenos naturais.

Segundo ele, um desvio na rota aumenta a extensão do voo e também o consumo de combustível.

- O avião precisa ter um peso máximo de decolagem em função de temperatura, altitude e dimensão da pista, que é uma grande limitação. Para viajar com mais combustível, ele precisará ter menos carga. Mas com as formações meteorológicas cada vez mais imprevisíveis, alguma mudança terá de ser feita.

Ao tomar conhecimento pelo GLOBO do estudo de caso que vem sendo desenvolvido pelo professor Humberto Barbosa, o diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, comandante Ronaldo Jekins, afirmou que todos os fatores que possam ter contribuído para o acidente serão estudados com profundidade.





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