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Air France 447 - Marinha chega à região dos destroços somente no fim da tarde


Mau tempo prejudica trajeto; aviões do Brasil, França e EUA seguem nas buscas por restos da aeronave no mar

SÃO PAULO - Aviões brasileiros, Franceses e americanos seguirão nesta quarta-feira, 3, nas buscas pelos destroços do avião da Air France que desapareceu no Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo. Por causa do mau tempo, que causou atrasos, somente entre 17 e 18 horas é que os primeiros navios da Marinha brasileira chegarão ao local onde os restos do Air Bus A-330-200 da Air France foram localizados na manhã de terça-feira por aviões brasileiros a 1.300 km da costa brasileira. Nesta manhã, um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), com capacidade de realizar voos rasantes, sobrevoará a região e assim os objetos encontrados ontem poderão ser melhor visualizados.

Segundo a agência de notícias francesa AFP, três aviões da FAB, um Falcon 50 da França e uma aeronave P-3 Órion dos EUA devem partir da base de Natal, no Rio Grande do Norte, para retomar as buscar em alto mar. De acordo com a fonte consultada pela agência, avião R-99 da FAB, que localizou os primeiros vestígios na véspera, manteve voos de inspeção e varredura de sinais eletrônicos por toda a noite, e as informações colhidas servirão para orientar o plano de voo das cinco aeronaves de Brasil, EUA e França que seguirão os trabalhos.

Em entrevista coletiva nesta terça-feira, o representante do Escritório de Investigações de Acidentes da Aviação Civil da França (BEA), Paul Louis Arslanian, afirmou que a França, que conduzirá as investigações sobre as causas da queda, "não está muito otimista" sobre a possibilidade de encontrar as caixas-pretas. O porta-voz afirmou que no final de junho tentarão publicar um primeiro relatório sobre o acidente.

As caixas pretas são dispositivos que guardam informações sobre o voo e sobre a comunicação entre os pilotos e são usadas para ajudar nas investigações sobre acidentes. O resgate das duas caixas pretas do avião da Air France pode ser dificultado pela profundidade do mar no local da queda, que poderia chegar a 4 mil metros. Mesmo submersas, as caixas pretas emitiriam um sinal que ajudaria em sua localização, mas apenas durante um período de 30 dias.

Segundo Arslanian, serão divulgados todos os detalhes sobre o acidente com o Airbus A-330 sem uso de termos técnicos, para facilitar o entendimento dos parentes das vítimas. Não serão aceitos apenas 80% do que aconteceu com o voo 447, mas sim 100% de tudo que ocorreu na tragédia que vitimou 228 pessoas, afirmou.

Ainda, segundo o representante do BEA, quatro grupos serão formados para analisar o material que foi encontrado e será recolhido no Oceano Atlântico. A primeira irá tentar localizar os destroços da aeronave; a segunda vai estudar o trajeto feito pelo Airbus; a terceira vai analisar as operações feitas pelo piloto e quarta, detalhar as características da aeronave. O porta-voz salientou a importância do trabalho e das informações colhidas junto à Força Aérea Brasileira e diz que até o momento não há nada que indique que o Airbus apresentava algum problema antes da decolagem.

Os primeiros vestígios foram localizados pelo avião R-99 da FAB, dotado de sensores, por volta da 1 hora de ontem. A identificação dessa área de buscas foi possível com base em informações de pilotos da TAM - na noite da tragédia, o voo 8055, que fazia exatamente o trajeto oposto (Paris-Rio), relatou cinco pontos de luz, nas cores laranja e vermelha, a 10 minutos de deixar o espaço aéreo do Senegal. Às 5h37 de ontem, um Hércules C-130 visualizou manchas de óleo no mar. Às 6h49, foi identificada uma poltrona de avião. Às 12h30, o C-130 detectou a linha de destroços.

Local das buscas

De acordo com o ministro Jobim, o primeiro contato visual de destroços foi feito por um avião da Força Aérea Brasileira dotado de sensores (R-99), que detectou restos do avião por volta da 1 hora de terça-feira. Às 5h37, outra aeronave da FAB, um Hércules C-130, visualizou manchas de óleo. Às 6h49, foi identificada uma poltrona de avião. Por último, às 12h30, o C-130 detectou um rastro de vestígios. "Cinco quilômetros de materiais não é de se supor que a maré tenha reunido. A existência da poltrona, do óleo, a identificação do R-99 e agora, complementando, os cinco quilômetros (de destroços), nos permite ter uma posição de que isso é do Airbus da Air France", lamentou.

De acordo com Jobim, não foram visualizados corpos. Jobim ressaltou que as buscas prosseguem numa área de 9.785 km², mas evitou falar em eventuais sobreviventes. "Não trabalho com hipóteses, mas com resultados empíricos", afirmou. Entre os vestígios observados, havia um bote salva-vidas aberto. "Por isso não podemos descartar essa possibilidade (de encontrar sobreviventes). Existiam quatro botes no voo e, se só um foi avistado, outros podem estar perdidos no mar", disse um tenente ao Estado, que pediu para não ser identificado. Há ainda a possibilidade de que os botes tenham se desprendido dos bancos na queda.

No entanto, o procedimento padrão em caso de evacuação, caso existisse um tripulante da Air France em um dos botes, seria amarrar as embarcações umas as outras. Em cada um deles cabem 35 pessoas. A possibilidade é considerada remotíssima por especialistas. O material recolhido será levado a uma distância de até 250 milhas próximas a Fernando de Noronha. Desse ponto, dois helicópteros carregarão o que for encontrado até o arquipélago. Esse limite foi estabelecido por causa da autonomia dos helicópteros, que podem fazer voos de ida e volta que somam 500 milhas.

Submarino que achou o Titanic

Segundo a BBC, o mini-submarino francês Nautile, usado em operações de busca das carcaças do Titanic, deverá participar do resgate das caixas-pretas do avião da Air France. O Nautile, que também ajudou nas buscas pelo petroleiro Prestige, que causou um desastre ecológico na Europa em 2002, está sendo levado para o local onde os destroços do avião foram vistos, a cerca de 700 quilômetros de Fernando de Noronha, pelo navio francês Pourquoi Pas.

O mini-submarino, normalmente operado por dois pilotos e um observador , é equipado com braços motores e pinças e pertence ao Instituto Francês de Pesquisas para a Exploração do Mar (Ifremer, na sigla em francês). Ele deve integrar as operações de busca a pedido do governo francês.

O Nautile foi o primeiro submarino a alcançar a carcaça do Titanic, que estava no fundo do mar desde 1912, depois que o navio foi detectado por sonares franceses no Atlântico Norte. Desde o início de suas operações, em 1984, o Nautile já realizou mais de 1,5 mil trabalhos de busca. O submarino pode mergulhar a profundidades de até 6 mil metros.

(Com Alberto Komatsu e Emilio Sant'Anna, de O Estado de S. Paulo, e Ricardo Valota, do Estadao.com.br)





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