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Tropa de Elite alemã abandona plano de libertação de reféns – GSG-9 forçado a recuar


Fernando Diniz


Numa enorme e super secreta operação, Berlim enviou os homens do GSG-9 , sua unidade de elite da polícia, para a Somália na intenção de libertar reféns e o cargueiro de bandeira alemã Hansa Stavanger capturado por piratas alguns dias antes. Porém antes que os comandos iniciassem o ataque, foram chamados de volta para casa. A abortada operação revelou deficiências nas forças de segurança da Alemanha.

No dia 4 de abril um grupo de piratas somalis abordou e capturou o cargueiro de bandeira alemã Hansa Stavanger, que navegava ao largo da costa da Somália. Cansados de pagarem vultosos resgates em situações semelhantes, os alemães resolveram desta vez mostrar que tinham a vontade e a força necessários para resolver a situação de outra maneira.

Na manhã de 29 de abril os membros do chamado “Gabinete de Crises” estava reunido no 5º piso do edifício Berlin Bendler-Block, onde desde a tarde de 4 de abriel reuniam-se di[ariamente, na tentativa de montar uma operação de resgate do barco e sua tripulação, que incluía entre russos e ucranianos, seis cidadãos alemães.

Os membros do GSG-9 estavam a ponto de invadirem o cargueiro. Havia chegado a este ponto após semanas de negociações entre os governos alemão, americano e queniano. Os americanos haviam emprestado o USS Boxer, um enorme porta-helicópteros, necessário para levar ao local previsto os seis helicópteros da força de ataque. O governo queniano havia “olhado para o outro lado” enquanto navios de guerra americanos e alemães invadiam Mombasa, seu principal porto. O Bahari Hotel de Mombasa havia sido transformado no QG das forças de ataque, e podia-se ver desfilando pelo lobbie homens musculosos, de óculos escuros e que bebiam apenas água mineral.

Os piratas haviam levado o Hansa Stavanger para Harardere, conhecido refugio de piratas, onde já estavam cerca de quinze navios seqüestrados, além de mais de trezentos reféns. Eles foram sempre seguidos à distancia pela fragata alemã Rheinland-Pfalz. Quando os piratas notaram a fragata, o capitão do Hansa por rádio pediu que se afastassem, temendo pela vida de seus tripulantes. A fragata obedeceu.

A coisa mudou subitamente quando os piratas que haviam seqüestrado o cargueiro americano Maersk Alabama pediram socorro a seus parceiros, já que estavam prestes a serem abordados pela US Navy. O Hansa partiu em socorro, sempre seguido pela fragata alemã. Chegaram tarde. Os SEAL’s já haviam resolvido a situação do Maersk Alabama e o Hansa retornou para Harardere.

Os membros do Gabinete de Crises haviam concordado em enviar o GSG-9, unidade policial cujo controle detinham, em vez de empregarem o KSK, unidade de Forças Especiais do Bundeswehr, para cujo emprego precisariam da aprovação de um relutante Parlamento.

Mas a missão já enfrentava problemas logísticos. Para transportar os seis helicópteros necessários à missão até a África seriam necessários aviões de carga de dimensões especiais, e os Antonov ou Ilyushin que poderiam ser alugados já estavam sendo usados por outros.

No dia 10 de abril, após os piratas terem pedido USD 14 milhões como resgate, o governo alemão finalmente estava pronto para agir. Naquela tarde, dois Antonov 124, três Ilyushin 76, um Transall e um Airbus partiram para Mombasa, lotados com armas, explosivos e seis helicópteros.

Anteriormente já haviam partido 200 homens do GSG-9, práticamente a totalidade dos membros da unidade.

Outra dificuldade encontrada pelo comandante do GSG-9 Olaf Lindner era a falta de informação detalhada sobre o interior do navio, e a provável localização dos reféns. Os piratas mantinham sempre seis tripulantes no convés, e os outros dezesseis eram mantidos no cavernoso interior do cargueiro, sem a menor idéia de onde seria.

Atacar sem estas informações seria suicídio. Se saísse tudo certo, seriam heróis. Se desse errado, seriam crucificados, além do banho de sangue em que se transformaria o ataque. Entre as poucas informações que tinham, o reconhecimento aéreo já havia identificado cerca de trinta piratas, com AK-47 e RPGs no convés. Não se sabia se haviam outros embaixo...O USS Boxer recebeu os helicópteros e os comandos a bordo e partiu para o ponto de concentração.

Lindner tinha outra preocupação. Se enviasse os helicópteros, os piratas poderiam ouvir o ruído e começar a matar os reféns. Se mandasse mergulhadores para subirem pelo casco, poderiam ser avistados e recebidos por um inferno de fogo, que causaria baixas e forçaria a tropa a recuar, deixando os reféns desamparos, e destruindo qualquer outra chance de ataque...

Na quarta-feira a surpresa: os americanos, até então parceiros e incentivadores da operação, subitamente avisaram que estavam retirando o USS Boxer, terminando assim com qualquer tentativa alemã de resolver pela força o impasse. As razões para tal decisão ainda permanecem obscuras, mas a realidade é que sem o correto suporte logístico, especialmente em navios de transporte e aeronaves de apoio, os alemães não tem condições de atuar em operações de longa distância. A lógica seria transferir tais operações para unidades SF do Bundesweher, como o KSK, que possuem este apoio logístico, mas esbarra na falta de empenho do Parlamento em atuar longe de suas fronteiras. Para que esta situação mude, será necessário uma mudança radical na própria Constituição Alemã, coisa que ainda está e será discutidas por muito tempo.

Este foi o inglório fim de uma operação de resgate que se tivesse sido levada a cabo com sucesso, entraria para os anais da história, e faria com que os audaciosos piratas somalis pensassem duas vezes em seqüestrar navios no Oceano Indico. Se numa mesma semana os SEAL’s americanos tivessem recuperado, como fizeram, o Maersk Amabama, e o GSG-9 recuperasse o Hansa Stavanger, a coisa poderia mudar completamente de rumo, e a segurança poderia voltar às perigosas águas que rodeiam a costa somali.






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