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Entrevista: "Se nada for feito, Coreia do Norte terá condições de atingir EUA"


Os testes norte-coreanos ainda não deixam o mundo na iminência de uma guerra nuclear, mas não podemos desprezá-los. Essa é a opinião do professor Christoph Bluth, especialista em política militar nuclear da Universidade de Leeds, na Inglaterra.

Para o professor, os sul-coreanos sofrem o risco imediato de conflito, mas se o governo Obama não tomar uma atitude enérgica, a Coreia do Norte pode, em curto prazo, desenvolver tecnologia suficiente para alcançar o Havaí. Daí para conseguir chegar à parte continental norte-americana não seria muito difícil.

Entretanto, para Bluth, o principal motivo das constantes demonstrações de poder do governo Kim Jong-il seria aumentar à força o poder de barganha do país. A principal fonte de riquezas da Coreia do Norte ainda consiste nas ajudas internacionais.

UOL Notícias - Qual é o risco que o mundo corre com os testes nucleares da Coreia do Norte?
Christoph Bluth - Existe a possibilidade de ter uma instabilidade maior e até mesmo confronto militar no local, mas a ameaça maior é mesmo regional.

A Coreia do Norte se torna uma ameaça para o mundo se levarmos em consideração a proliferação das armas de destruição em massa e dos mísseis balísticos para países como Irã e Paquistão.

UOL Notícias - O que a Coreia do Norte busca com os testes?
Bluth - O atual sistema econômico e social da Coreia do Norte não é viável. O que o governo está tentando fazer é extorquir apoio da comunidade internacional, que tem interesse em acabar com o programa nuclear dos norte-coreanos. O governo de Pyongyang teve sucesso com essa política há algum tempo com os diálogos de seis lados (negociações envolvendo as duas Coréias, Estados Unidos, Rússia, China e Japão) quando um reator de plutônio foi destruído.

O que ocorre agora é que as relações com a Coreia do Sul estão muito ruins. Eles estão testando o governo Barack Obama. A Coreia do Norte quer ser aceita como um Estado nuclear, com arsenal nuclear. Mas eles estão dispostos a sacrificar parte do seu programa nuclear caso consigam benefícios econômicos e normalizar as relações com os Estados Unidos.

Então, o lançamento do míssil em abril e esse teste nuclear que acabou de acontecer são demonstrações do poder militar da Coreia do Norte, para que o país tenha maior poder de barganha quando as negociações ocorrerem.

UOL Notícias - Qual medida a comunidade internacional deve tomar para coibir mais testes?
Bluth - Eles devem sofrer mais sanções no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O que a Coreia do Norte deve fazer imediatamente é retomar o diálogo de seis lados.

Só que eles querem mudar o acordo atual. Hoje, o diálogo prevê vistoria de todas as instalações nucleares e a destruição de todo o plutônio enriquecido em troca de benefícios econômicos e da normalização das relações da Coreia do Norte com os Estados Unidos.

O que eles querem agora é serem reconhecidos como uma potência nuclear, e Barack Obama não pretende fazer isso.

UOL Notícias - O que podemos esperar daqui para frente?
Bluth - O que eu acho que vai acontecer agora é que a administração Obama vai esperar propostas diplomáticas. Acho isso problemático pois eles podem tentar uma nova iniciativa para demostrar seu poder nuclear nos próximos meses. Eu não acredito que eles ficarão quietos por muito tempo.

Eles realmente estão tentando pressionar os Estados Unidos em uma negociação para conseguir os benefícios sem precisar abrir mão de todos os seus aparatos nucleares.

UOL Notícias - Essa demonstração de poder da Coreia do Norte não pode agravar ainda mais a situação da população que chega a passar fome no país?
Bluth - A situação social na Coreia do Norte é horrenda, mas o governo não liga para isso. Eles já abriram mão do norte do país. Tudo o que eles se importam é na elite do país, que se mantém da ajuda de Kim Jong-il. Enquanto eles forem ajudados, o governo acha que se mantém no poder.

UOL Notícias - Existe o risco de ataques por parte da Coreia do Norte? Ou até mesmo de algum país querer invadir o território norte-coreano?
Bluth - Existe o risco de um conflito na zona desmilitarizada, até mesmo por um erro de cálculo. A Coreia do Norte mantém 900 mil soldados de prontidão para entrar em guerra perto de lá. Essa é a razão pela qual os Estados Unidos não intervêm militarmente e todos tentam agir de maneira mais calculada.

Porém, o risco é que, se nada for feito, eventualmente a Coreia do Norte consiga armas nucleares que atinjam os Estados Unidos. Os Estados Unidos devem agir antes que os norte-coreanos tenham a capacidade de atingir um alvo do outro lado do oceano.

UOL Notícias - Qual é o poder real de ataque do arsenal nuclear da Coreia do Norte?
Bluth - Os russos dizem que esta bomba teria 20 quilotons e seria capaz de destruir uma cidade. Hoje, eles conseguem alcançar o Japão e a Coreia do Sul. O próximo passo é atingir o Havaí. Mas eles só têm poucas unidades. Se eles conseguirem reativar o reator de Yongbyon eles vão poder enriquecer mais plutônio.

Fonte: UOL





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