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Brasil - Caixa-preta de avião que caiu matando 14 pode ser analisada no exterior



Cleide Carvalho, Fabiana Parajara e Wagner Gomes, O Globo

Agência A Tarde/Joao Souza

SÃO PAULO - A caixa-preta do avião que caiu, na última sexta-feira, matando 14 pessoas, em Trancoso, no sul da Bahia, foi encaminhada para análise no comando da Aeronáutica, em Recife. De acordo com a Aeronáutica, o equipamento será avaliado na segunda-feira. Como a leitura do gravador (que contém todos os dados do voo) exige um equipamento específico, a Aeronáutica ainda não sabe se ele será analisado no Brasil ou no exterior. Apenas na segunda-feira, os técnicos irão definir onde a transcrição será feita. ( Veja fotos do acidente )

A Aeronáutica afirma que não tem prazo para concluir as investigações sobre o caso. Os dados da caixa-preta podem revelar o que provocou o acidente. Algumas testemunhas, ouvidas pela polícia no sábado, afirmam que uma rajada de vento pode ter causado a queda do bimotor King Air 350. O acidente matou quatro crianças e 10 adultos - atingindo três gerações da família do empresário Roger Wright, ex-sócio do Banco Garantia e dono da Arsenal Investimentos . Até a noite deste domingo cinco dos corpos foram identificados, incluindo todas crianças. O sepultamento de Wright e seus familiares será no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul da capital, após a liberação de todos os corpos.

- Quem vai apurar as causas do acidente é a Aeronáutica, que vai avaliar a caixa-preta e os destroços da aeronave, mas as testemunhas relatam que não havia qualquer problema no voo ou no procedimento de pouso até, a cerca de 150 metros da pista - diz o delegado Evy Paternostro, coordenador Regional da Polícia Civil da Bahia, da 23ª Coordenadoria de Arraial d'Ajuda, que colheu os depoimentos.

A polícia já ouviu quatro funcionários da pista de pouso do condomínio Terravista, onde a aeronave pousaria, que estavam no local no momento do acidente. Além deles, foram ouvidos pela polícia o filho do piloto Jorge Lang Filho e uma mulher, que seria filha de uma das vítimas.

(Leia também: Acidente aéreo em Porto Seguro é o 47º deste ano )

Pelo menos dois funcionários do aeroporto privado do condomínio estavam na pista no momento do acidente e ambos relataram que o comandante do avião se comunicou por rádio com os operadores de pista, obteve autorização de pouso e já havia acionado o trem de pouso, perto da cabeceira, quando perdeu altitude e, em seguida, recuperou altitude correta. Em seguida, já perto da cabeceira, balançou as asas e inclinou para um dos lados. Segundos depois, diz a testemunha, foi ouvido o barulho da queda e avistado o clarão da explosão vindo da área, que é de mata fechada. A pista fica em local afastado, na estrada que liga Arraial d'Ajuda a Trancoso, a cerca de 14 km da vila de Trancoso.

Divulgação Condomínio Terravista- Pouco antes do acidente havia chovido. Segundo Paternostro, não há torre de controle na pista do condomínio privado. A comunicação entre pilotos e operadores é por meio de rádio e a sinalização de pista é feita pelos operadores, que se encarregam também de estender um tapete para recepção dos moradores do condomínio, que é de alto luxo.

"Ele baixou o trem de pouso, travou e, na hora que estava se aproximando, de uma hora para outra balançou as asas, inclinou, como se fosse uma rajada de vento, e caiu", contou um dos funcionários, que avistava o pouso enquanto estendia o tapete.

Minutos antes do pouso havia chovido e o avião foi avistado, com seus faróis iluminando a copa das árvores.

- Da pista até o local onde o avião caiu dá 200 metros. Até o início do pouso, a comunicação por rádio foi normal - disse o delegado.

O aeroporto do Terravista tem uma pista de 1.500 metros e não possui torre de controle. Os pousos e decolagens são monitorados por rádio, como ocorre na maioria dos aeroportos de pequeno porte do país. O local tem um anemômetro, para medição do vento, mas a polícia não colheu informações sobre a velocidade das rajadas. A investigação das condições de pouso faz parte da atribuição da Aeronáutica.

Os corpos das 14 vítimas - 10 adultos e quatro crianças - seguiram para o Instituto Médico Legal (IML) de Salvador em um avião do governo do estado da Bahia, segundo informou o delegado. A Polícia Civil destacou uma equipe para agilizar a liberação dos corpos e acompanhar os parentes das vítimas, que estão na cidade desde sábado.

As primeiras informações são de que a manutenção da aeronave estava em dia. A ficha da aeronave do site da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indica que o IAM (Inspeção Anual de Manutenção) havia vencido no último dia 14 de maio, nove dias antes do acidente. Porém, a manutenção teria sido feita e a ficha da aeronave pode não ter sido atualizada no site. O seguro da aeronave estava em dia e venceria em 18 de agosto.

Outra informação importante é que a aeronave, adquirida em 2005, tinha capacidade máxima para 10 pessoas, mas viajava com 14, sendo uma delas um bebê de apenas seis meses. A capacidade de peso para decolagem era de 6.804 kg.

O avião decolou do Aeroporto de Congonhas com número maior de passageiros do que o recomendado pela fabricante da aeronave. Para o comandante Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, se isso ocorreu, a aeronave deixou Congonhas em situação "ilegal".

Agência A Tarde,  Joao Souza O coronel reformado Franco Ferreira, especialista em segurança de vôo, não acredita que o avião tenha caído por excesso de peso. Segundo ele, ainda que tenha decolado de São Paulo com mais pessoas do que o permitido, a aeronave estava pronta para aterrissar no Aeroporto Terravista com 600 quilos a menos de combustível, o que corresponde a duas horas de vôo entre São Paulo e Trancoso, no Sul da Bahia.

- O peso é muito importante para o pouso, pois dele decorre a velocidade necessária para descer. Mas esse não deve ter sido o problema, já que a queima de combustível reduziu o peso total - disse.

O coronel explicou que quanto mais pesado, mais velocidade o avião precisará ter para pousar. A velocidade deve variar entre 100 e 140 nós em um vôo normal. Ferreira explicou que a tripulação não seguiu as determinações de vôo, que estabelece um assento e um cinto de segurança para cada pessoa. Mas essa irregularidade também não é fator determinante para um acidente.





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