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Europa - “Ou mudamos ou fechamos” — aviso do presidente da TACV aos trabalhadores


A TACV “está muito doente” e “só sobrevive porque tem acumulado dividas em cima de dividas” e “também porque os seus credores vão fechando os olhos e nenhum deles pediu, até agora, o seu encerramento — leia-se falência”, assim começa o presidente da TACV uma carta aos trabalhadores cuja mensagem é “ou mudamos ou fechamos”.

António Pereira Neves afirma nessa carta, citada na imprensa cabo-verdiana, que “chegou a hora das grandes decisões”, porque a companhia “corre sérios riscos”, e revela que “tem sido uma ginástica permanente solver compromissos para que os nossos aviões continuem a voar” e que a empresa já enfrentou “crises sérias de abastecimento em aeroportos estrangeiros”, bem como já teve que, “in extremis, pagar taxas de rota e aeroportuárias para que pudéssemos levantar voo da Praia…”.

“A situação de ruptura financeira que hoje vivemos é resultado de decisões e medidas que foram sendo tomadas ao longo dos anos”, justifica António Pereira Neves na carta aos trabalhadores, sem especificar a que medidas é que se refere, mas acusando que “agravaram os custos operacionais sem que tivesse havido o cuidado de ponderar se havia proveitos para os suportar”, que “a estrutura foi sendo continuamente sobredimensionada em diversas áreas e sectores” e que “a Companhia tem vindo a viver acima das suas possibilidades, tem vindo a dar e a fazer coisas para as quais não possui nem meios nem recursos”.

Feito este diagnóstico, o presidente da TACV – Cabo Verde Airlines anuncia que é chegado o momento “haver decisões muito sérias” e que “as opções que temos são muito claras e incontornáveis: ou mudamos ou fechamos”, ou são adoptadas “medidas estruturais de fundo ou aceitamos resignados a perda de mais de 800 postos de trabalho”, ou é garantida “a sobrevivência da nossa companhia aérea de bandeira ou continuamos o percurso de definhamento e fecho anunciado da TACV”.

As medidas anunciadas na carta dizem respeito à estrutura interna da companhia, bem como à sua recapitalização pelo Governo e António Pereira Neves garante estar disposto a assumir as suas responsabilidade, a “encarar as dificuldades e adversidades promover aquilo que deve ser feito a favor do bem maior que é a TACV – Cabo Verde Airlines”, ainda que também diga que na sua vida profissional nunca se confrontou “com dilemas e alternativas tão difíceis e desagradáveis”.

No plano interno da companhia, o presidente da TACV anuncia que já apresentou ao Governo uma proposta legislativa sobre “trabalho do pessoal móvel da aviação civil” cujo objectivo é dotar a empresa de “um regime de trabalho harmonizado com a prática internacional e sem prejuízo da protecção da saúde, da segurança dos trabalhadores e da segurança operacional”.

Outra medida anunciada é uma revisão e ajustamento dos “subsídios vigentes na empresa”, que António Pereira Neves diz que “além de alguns serem injustos e discriminatórios, agravam “fortemente os custos de operação da Companhia”.

“Por isso, acrescenta, devem ser ou eliminados ou colocados a um nível suportável, sem prejuízo de poderem exercer com eficácia a função para que foram criados”.

O presidente anuncia ainda na carta que “serão reapreciadas as situações em que a Companhia vem pagando horas extras no sentido de sua eliminação quando não se justificam ou possam ser compensadas de outra forma” e indica que “outras medidas serão tomadas para que os custos com remunerações sejam reduzidos”, indicando estar a referir-se a “congelamento de ingressos, reestruturação de posições de chefia, flexibilização de horários, polivalência, optimização de RH, etc.”.

António Pereira Neves admite na carta que essas medidas “não serão todavia suficientes para viabilizar a Companhia no médio e longo prazo” e alerta que poderão ser necessários “esforços adicionais”, indicando, sem especificar, que o trabalho avança “em outras frentes para proporcionar a TACV uma escala adequada e níveis de eficiência operacional que lhe garantam o futuro”.

A nível financeiro, o presidente da TACV revela que a empresa “vem negociando com o Governo um apoio financeiro que deverá traduzir-se, desejavelmente, no aumento do Capital Social e no reescalonamento da divida financeira de curto prazo da Companhia”.

A carta revela que este ano a empresa “deve fazer grandes reparações e modificações na sua frota que poderão custar perto de um milhão de contos [cabo-verdianos; cerca de nove milhões de euros]” e que a empresa “não estará em condições de poder servir a sua divida financeira de curto prazo, sobretudo num ano em que todas as previsões apontam para uma grave crise das companhias aéreas, como consequência da redução do número de passageiros, do aviltamento das tarifas e da intensificação da concorrência”.

“Estou firmemente convicto de que o Governo encontrará os melhores mecanismos para ajudar a TACV a sair da situação complicada em que vive”, acrescenta António Pereira Neves, que também avisa que não pretende do Governo um “cheque em branco à Companhia”.

“As soluções devem ser sustentadas e adequadas às necessidades da empresa”, defende o presidente da TACV, avançando que a proposta da Administração da empresa é que o Governo contratualize “um caderno de encargos para que sejam criadas perspectivas reais e credíveis de viabilização da TACV”.

“É neste quadro que devemos entender e equacionar as medidas que estamos a anunciar agora”, prossegue a carta, para de seguir pedir aos trabalhadores da empresa que compreendam que que “as medidas são duras e antipáticas” mas têm que avançar, “porque não há outro caminho para salvar a TACV”, que “tem potencialidades e tem todas as condições para vencer a crise e entrar no caminho de um progresso sustentado e virtuoso”.

“Mas, para isso, não podemos perder a oportunidade para fazer aquilo que tem de ser feito, em beneficio de cada um de nos, da TACV e do País”, conclui.






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