Argentina quer reestatizar fábrica de aviões
DEFESA@NET 18 março 2009 |
Antes da decisão, unidade poderia ficar com a Embraer
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem o envio ao Congresso de um projeto de lei para reestatizar a Fábrica Militar de Aviões, controlada desde a década de 90 pela americana Lockheed Martin, localizada na província de Córdoba. A recuperação da fábrica de aviões é um dos aspectos centrais das negociações entre o governo argentino e a Embraer. Na última visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Buenos Aires, no ano passado, um possível acordo entre a Casa Rosada e a Embraer foi discutido pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que, na época, assegurou que a empresa aceitaria assumir o controle da fábrica em Córdoba, exigindo, como contrapartida, a compra de aviões por parte do Estado argentino.
- Essa decisão (a reestatização da fábrica militar) está relacionada a outras decisões que já adotamos, como a recuperação de nossa companhia aérea nacional (Aerolíneas Argentinas) - disse a presidente argentina, em visita à Córdoba.
Cristina defendeu a necessidade de "recuperar o prestígio perdido" pela indústria aeronáutica argentina nas últimas décadas:
- Fomos um país com futuro e presente, que gerava trabalho, tecnologia e progresso - lembrou.
Cristina lamentou que o desenvolvimento tecnológico que a Argentina construiu tenha sido destruído:
- Temos de continuar avançando na adoção de medidas estratégicas para recuperar o trabalho argentino, com mãos e neurônios argentinos.
Unidade foi privatizada por Carlos Menem
O projeto de reestatização será enviado esta semana ao Congresso. Desde que a iniciativa foi apresentada pela ministra da Defesa, Nilda Garré, o governo argentino analisou a possibilidade de associar-se à Embraer, bem como à chilena Enaer. O possível acordo foi discutido várias vezes entre Nilda e Jobim.
- Para justificar a presença da Embraer no país, a Argentina deve comprar alguns aviões - disse o ministro brasileiro, após uma visita à capital argentina, em 2008.
A fábrica tem 1.100 trabalhadores e foi privatizada pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). A reestatização confirmada por Cristina foi bem recebida pelos trabalhadores do setor, que consideraram "nefasto" o período de concessão à Lockheed Martin. Em nota, a Associação de Trabalhadores Técnicos Aeronáuticos assegurou que a fábrica de Córdoba "foi líder latino-americana na fabricação de aviões civis e militares e terminou sendo vítima da festa de privatizações de um Estado extremista neoliberal, versão do Consenso de Washington".