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NATO: Força Aérea Portuguesa testa novas capacidades num cenário de conflito assimétrico

Por Pedro Manuel Monteiro
(http://pedromonteiro-photography.blogspot.com)




A missão do dia, inserida em mais uma edição do exercício “Real Thaw”, realizado em território português, é o ataque a um comando operacional conjunto e ao quartel-general do exército da força inimiga num cenário de conflito assimétrico – a lembrar o exemplo bem real do Afeganistão. Esta missão põe à prova as capacidades dos pilotos portugueses e dinamarqueses que irão voar conjuntamente, mas também um sistema recentemente entrado ao serviço na Força Aérea Portuguesa (FAP): o targeting pod Litening AIT.

Teste à resistência

Contam-se já três exigentes semanas do exercício “Real Thaw”, o qual terminará em 12 de Fevereiro. Numa sala da Esquadra 301 “Jaguares”, a qual voa os caças F-16 MLU portugueses, algumas dezenas de militares reúnem-se para mais um briefing matinal. Concentrados, estes recebem, dos oficiais responsáveis por cada área, informações actualizadas sobre meteorologia, ameaças detectadas pela intelligence ou os alvos prioritários. Nos últimos dias estes militares foram levados aos seus limites físicos e psicológicos, num teste permanente às suas competências e conhecimentos, à sua capacidade para planear e conduzir operações aéreas num cenário de conflito assimétrico.

Como explica o Tenente-Coronel Paulo Gonçalves, oficial de relações públicas da FAP, este exercício, organizado pelo Comando Operacional da Força Aérea, simula uma operação combinada e conjunta. Iniciado a 19 de Janeiro, ele inclui três fases: na primeira semana, o foco foram as ameaças ar-ar, na segunda e terceira as operações conjuntas entre meios aéreos e operações terrestres e na quarta e última a operação de meios aéreos no meio marítimo.


F-16 MLU da Força Aérea Portuguesa


Pod designador de alvos litening AIT


A par da base aérea de Monte Real, donde operaram caças portugueses e dinamarqueses, estiveram envolvidas mais três bases aéreas e, ainda, o Centro de Comando e Controlo da Força Aérea. No total, o “Real Thaw” envolveu 25 de aeronaves de vários tipos, incluindo caças F-16 dinamarqueses e F-18 espanhóis, a voar a partir de Zaragoza, ou um avião de aviso aéreo antecipado E-3A da NATO, e um total de 400 militares. O Exército contribuiu com as tropas pára-quedistas e de operações especiais da Brigada de Reacção Rápida e, por sua vez, a Marinha mobilizou fuzileiros e meios navais.

O epicentro do exercício foi a Serra da Estrela, o ponto mais alto de Portugal, que, nesta época de Inverno, é conhecida pelas suas condições extremas. Defesa Net embarcou, na base aérea de Monte Real, a bordo de um Aviocar que realizou um voo táctico até ao aeródromo de Seia. Neste lugar, foi possível assistir a uma demonstração de uma operação que colocou à prova a coordenação entre equipas de controlo aéreo com militares portugueses e americanos; as tropas pára-quedistas do Exército que tomaram de assalto, lançadas de pára-quedas, o aeródromo para garantir a sua segurança; os militares de operações especiais que, chegando de helicóptero, permitiram a evacuação de um piloto cuja aeronave havia sido abatida em território hostil. No regresso da missão, o comandante da Esquadra 301, Major Lourenço, não escondia a satisfação com os seus resultados: os caças adversários não haviam penetrado as defesas, tendo sido assegurada a protecção das aeronaves envolvidas no resgate.

Um cenário complexo e com múltiplas ameaças que foi desenhado por uma equipa de especialistas. Entre eles, encontra-se o que inclui o Major Armando Leitão, responsável pela divisão de intelligence do Comando Operacional da Força Aérea, que exerceu, recentemente, a função de oficial para esta área do destacamento português de C-130 enviado para o Afeganistão. O cenário tem em conta as novas ameaças assimétricas como o terrorismo e a necessidade de resgatar um piloto abatido em combate, mas também ameaças convencionais, como o possível confronto com caças Su-27B Flanker e Su-25 do fictício Hindukus e o risco da defesa antiaérea com armas soviéticas a engrossar a lista, entre o SA-3, o SA-6, SA-8 e ZSU-23-4.

Novos sistemas de armas para novas missões

A base aérea de Monte Real é, sem dúvida, de uma das mais importantes do dispositivo operacional da FAP. Conta, hoje, com 850 militares repartidos pelas duas esquadras de caças F-16 e estruturas de apoio. A Esquadra 201 “Falcões” celebrou, em 2008, cinquentas de existência estando equipada com caças F-16 OCU. A Esquadra 301 “Jaguares”, ilustre membro da comunidade NATO Tiger Meet, e prestes a celebrar trinta anos de existência, voa hoje os caças F-16 MLU, depois de ter voado Alpha-Jet. As duas esquadras têm como missão a defesa aérea, interdição aérea e missões de apoio aéreo ofensivo. Como parte da sua missão de defesa aérea, ambas as esquadras asseguram o chamado QRA (Quick Reaction Alert). Isto significa que num espaço de 15 minutos, o ramo militar consegue colocar no ar dois caças armados e prontos a interceptar qualquer ameaça detectada no espaço aéreo nacional.

Em conversa com Defesa Net, o Tenente-Coronel João Pereira, comandante do Grupo Operacional 51 que agrupa as duas esquadras, nota que o objectivo é que, no futuro, “ambas as esquadras possuam as mesmas capacidades e missões”. Os caças modernizados têm sido equipados com novos sistemas, que os colocam ao “nível do que melhor existe entre os nossos aliados”, aponta. A listagem é extensa e inclui os mísseis ar-ar AIM-120 AMRAAM de médio alcance, armamento de precisão, equipamentos de visão nocturna, os novos capacetes JHMCS (Joint Helmet Mounted Cueing System) e, mais recentemente, os pods de designação de alvos Litening AIT, com valências no combate ar-ar e ar-solo ou em missões de reconhecimento e recolha de informação. Estes estão dotados de uma câmara infra-vermelhos, uma câmara de vídeo e um designador laser, permitindo a recolha de dados em quaisquer condições climatéricas e a iluminação de alvos para armamento de precisão mesmo sem o apoio de tropas no terreno. O “Real Thaw” foi, de resto, o primeiro grande exercício da Força Aérea em que este sistema foi posto à prova, precisamente num contexto similar ao do Afeganistão - para o qual os “Jaguares” poderão vir a ser chamados, como já aconteceu com as esquadras de F-16 dinamarquesas e holandesas.


Veterano Helicóptero Allouete


F-16 MLU equipado com o pod designador de alvos Litening AIT


Para já, no primeiro semestre de 2009, a Esquadra 301 terá atribuídos seis caças à Nato Response Force (NRF 12). Como explica o comandante do grupo operacional 51, isto implica que a força portuguesa deve poder num “prazo mínimo de cinco dias operar em qualquer parte do mundo”. O contributo nacional para a força da NATO deverá continuar ao longo dos primeiros semestres dos próximos quatro anos, acrescenta.

Hoje, a Esquadra 301 conta com treze pilotos e a Esquadra 201 com dez. O objectivo, diz o Tenente-Coronel João Pereira, é que já em 2010 todos os pilotos portugueses estejam qualificados no MLU. Isso implica distribuir as aeronaves modernizadas e a modernizar pelas duas esquadras. O processo de modernização, contratado para 40 aeronaves, deverá estar concluído já em 2012, acrescenta, enquanto recorda as melhorias significativas no ritmo de entregas registadas em 2008.




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