Irã lança primeiro satélite com recursos próprios
Jony Santellano,
São José dos Campos-SP
O Irã lançou no último dia 2 de fevereiro um satélite de fabricação própria na órbita terrestre. O satélite chamado Omid (que significaria "mensageiro da esperança", na língua farsi), foi lançado em órbita pelo foguete Safir-2, também de fabricação iraniana, na noite de uma segunda-feira, data que coincide com as comemorações do 30º aniversário da Revolução Islâmica de 1979. Com este feito, o Irã tornou-se a 9ª nação do mundo a conseguir enviar satélites para órbita terrestre com recursos próprios.
Foguete iraniano Safir-2, que colocou em órbita o satélite Omid também iraniano, no último dia 02 de fevereiro.
Foto: Vahidreza Alai / AFP Paris
O satélite Omid deverá permanecer em órbita, em princípio, por cerca de três meses. Neste período, deverá recolher informações e testar equipamentos a bordo. Está programado para dar 15 voltas ao redor do planeta a cada 24 horas, enviando sinais ao centro espacial iraniano. Foi o primeiro satélite produzido totalmente no Irã.
Em 2005, o Irã lançou ao espaço um outro satélite (Sinah-1) dentro das atividades de um projeto conjunto com a Rússia, que fornece tecnologia espacial ao país, e também à China e à Coréia do Norte. Segundo a agência estatal de notícias iraniana, este projeto foi o primeiro passo para o país adquirir uma tecnologia espacial própria.
Com o lançamento espacial bem-sucedido, o Irã tornou-se a nona nação a conseguir colocar um satélite na órbita terrestre apenas com tecnologia própria. Todos os recursos utilizados para a realização do projeto, o foguete, o satélite, etc., foram desenvolvidos pelo Irã.
Fazem parte do seleto clube de nações que dominam totalmente as diversas etapas de um programa espacial completo, por ordem de entrada: Rússia (1957), EUA (1958), França (1965), Reino Unido, Japão (1970), China (1970), Índia (1980), Israel (1988) e Irã (2009). O Irã entrou no clube passadas cinco décadas de sua inauguração pela Rússia (na época URSS). O Brasil aguarda ainda a sua vez para ingressar neste seleto grupo, investindo em um programa espacial de gerência estatal.
A notícia da proeza iraniana causou ao mundo um discreto interesse e uma desmedida preocupação. As tecnologias espaciais são consideradas críticas e duais, por motivarem interesses civis e militares. Um foguete usado para lançar ao espaço um satélite de natureza civil pode ser transformado com algumas adaptações em um míssil de longo alcance, que poderia servir para transportar artefatos nucleares. De acordo com opiniões de especialistas em defesa, "existe quase sempre uma ligação entre programas de satélites civis e programas militares, e existe também quase sempre ligação entre satélites e armas nucleares".
No caso do Irã, preocupa o mundo ocidental a sua situação de "estado beligerante", a existência de um programa nuclear em desenvolvimento e considerado, sob certos aspectos, "fora de controle", a sua relação tensa com os seus países vizinhos, as suas ambições hegemônicas sobre os países de sua influência, e uma relação inamistosa com Israel. Razões não lhe faltariam para desenvolver um programa espacial autônomo, com forte interesse militar.
Entretanto, o presidente do Irã assegurou que o satélite lançado possui fins pacíficos e afirmou que o seu envio à órbita terrestre era uma mensagem de paz e fraternidade para o mundo; declaração esta muito diplomática e apropriada, em perfeito acordo com os princípios do direito internacional, no melhor espírito do tratado do uso do espaço cósmico de 1967.
Passadas cinco décadas da era espacial, ainda é pequeno e seleto o conjunto de nações que possue um programa espacial completo, agora restrito a nove membros. Coincidentemente, são também nove os países pertencentes ao chamado clube atômico, os que dominam o ciclo completo da tecnologia nuclear. Tanto em um quanto em outro clube, os novos membros dominam o ciclo tecnológico - nuclear e espacial - muito mais por receberem informações privilegiadas de um antigo membro do clube, do que por um desenvolvimento tecnológico resultante de um processo criativo autônomo. O Irã cortou o caminho para a porta de entrada do clube espacial graças principalmente ao apoio recebido da Rússia.