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Brasil - FIESP lança Comitê da Cadeia Produtiva da Aeronáutica

20 de fevereiro de 2009

Unir forças para ver a indústria aeronáutica brasileira levantar vôos cada vez mais altos. Essa é a proposta do Comitê da Cadeia Produtiva da Aeronáutica (Comaero), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cujo objetivo é fomentar a indústria aeronáutica brasileira.

O Comitê, que teve evento de lançamento oficial na última quarta-feira (18/02), também propõe discutir alguns temas “críticos” do setor, como a privatização de aeroportos, infra-estrutura aeronáutica, as compensações financeiras de contratos (off-set), certificação de produtos e aeronaves, além do futuro do controle de tráfego aéreo no país, bem como a realização de um cadastro de indústrias “prontas” para fornecer peças, equipamentos e suprimentos para fins aeronáuticos.

A iniciativa busca congregar todos os segmentos da aeronáutica brasileira, inclusive as empresas aéreas, bem como a aviação das três forças armadas. Segundo o coordenador geral do Comitê, Fernando Arruda Botelho, ainda não há estimativas de quanto o setor pode ser incrementado e ressalta que estão partindo do ‘zero’. “O Comaero pretende se colocar como um elo para discussão dos caminhos da indústria do setor e da própria aeronáutica no país. Ninguém quer inventar nada, só queremos unir forças e ver a indústria crescer”, afirmou.

Botelho vislumbra, por exemplo, a sinergia entre os setores da produção naval, aeronáutica e petrolífera brasileira. Segundo ele, há indústrias com parques já montados, com capacidade de também fornecer seus produtos e serviços para a indústria aeronáutica, bem como para as forças armadas.

“Uma empresa que produz uma válvula de aço que vai a 4 mil metros de profundidade também deve ter a mesma capacidade de produzir uma peça para ser utilizada em um avião ou em um armamento. Há um total desconhecimento das empresas sobre as necessidades aeronáuticas”, ressaltou.

O coordenador vê também a importância de se proteger a indústria aeronáutica brasileira. Uma das vias é a partir da própria escolha de produtos nacionais pelas forças armadas. Ele cita o caso do Neiva T-25 Universal, o avião utilizado para o treino básico dos aspirantes na Academia da Força Aérea (AFA). Eles serão desativados por volta de 2015. Botelho vê como uma oportunidade para as empresas nacionais. “É um avião que o Brasil pode perfeitamente produzir. Vamos buscar o compromisso do Tenente-Brigadeiro Juniti Saito (comandante da Aeronáutica) para que a licitação seja interna, com empresas brasileiras”, disse Botelho.

Para o comandante da Aviação do Exército, general Roberto Sebastião Peternelli Júnior, o lançamento do Comaer é uma iniciativa muito importante, ao proporcionar juntar fabricantes, fornecedores e operadores de aeronaves no mesmo âmbito. Único militar da ativa presente ao lançamento, Peternelli ressaltou a proposta do banco de dados do setor como uma ferramenta importante, principalmente para o segmento de asas rotativas no Brasil, que detém uma das maiores frotas de aeronaves operadas por civis do mundo.

Ainda Peternelli, há interesse por parte do Exército em se contar com outros fornecedores. Ele disse que já fez o convite para a Fiesp visitar a base de Taubaté e também se colocou à disposição de abrir os seus estoques e levantar os suprimentos que podem ser fabricados nacionalmente. “Este é um segmento estratégico, e que quanto mais dependermos de fora, melhor”, afirmou.

O Comaero pretende atuar por meio da realização de estudos, projetos e análises, além de promover palestras, seminários e articulações entre entidades como o próprio Estado Maior da Aeronáutica (Emaer), a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), entre outras. São ao todo 13 segmentos do setor aeronáutico agrupados em 13 grupos de trabalho, com um coordenador específico para cada um deles.

Ainda segundo Botelho, algumas visitas de empresas estão sendo programadas. Um convite da Fiesp já teria sido feito à Dassault apresentar o seu caça relacionado no projeto F-X 2 e que também deve ser estendido para as outras concorrentes. Uma missão de empresários brasileiros também já está programada para a feira aérea de Dayton, nos Estados Unidos, em julho deste ano.

Nacionalização

Uma das frentes de atuação do comitê é a nacionalização de produtos e equipamentos vindos do exterior. Para o coordenador do grupo de trabalho de Nacionalização, o brigadeiro da reserva da Aeronáutica Ivo de Almeida Prado, há muito a ser feito neste campo. Um dos principais pontos a também serem trabalhados é a certificação dos produtos. O alto custo dos processos ainda seria o grande impeditivo.

Prado explica que muitos produtos já são produzidos no Brasil, mas precisam ir para outros países para certificação, resultando ainda em custos alfandegários e de remessa. “Já sabemos da qualidade desses produtos nacionais e falta só um passinho a mais para a certificação aqui mesmo no Brasil”, avalia. Quando em serviço na FAB, Almeida Prado acompanhou processos de nacionalização de peças para as aeronaves de treinamento Embraer T-27 Tucano e de transporte EMB-110 Bandeirante, além do caça de defesa aérea Dassault Mirage III e de treinamento Embraer AT-26 Xavante. Essa experiência deve ser repassada para o Comitê.

Segundo ele, há histórias “bonitas” de revezes e cita como exemplo o caso da nacionalização das pastilhas de freio utilizadas pelo Mirage III, comprado na década de 70. As indústrias fabricantes da pastilha utilizavam o amianto no composto e, quando da proibição mundial do elemento, a FAB se viu sem opções de fornecedores. A solução foi encontrada com uma empresa nacional e, hoje, o Brasil se tornou fornecedor da pastilha para os usuários do Mirage III no mundo.

Sem crise

Apesar do Comitê entrar na posição de decolagem em tempos turbulentos de crise financeira, Fernando Botelho só vê céu de brigadeiro pela frente. Ele se mostra otimista e confiante no momento brasileiro. “O Brasil se encontra numa situação muito boa. Cá entre nós, chegou a nossa hora”, disse. Ele deu exemplos de pequenas e médias empresas nacionais que se saíram bem no ano passado, com vendas expressivas de aviões.

Uma delas é a Edra Aeronáutica, fabricante do modelo Super Petrel, um ultraleve anfíbio que no ano passado teve 43 unidades vendidas. O sucesso é tanto que, para este ano, um novo modelo, o Super Petrel LS, será lançado com melhorias e já conta com toda a capacidade de produção em 2009 vendida. O fabricante, que também é representante para vendas no Brasil do avião leve esportivo Dynamic, do ultraleve C-42 Ikarus e dos helicópteros Schweizer, ainda registrou a venda de 60% de toda a sua produção para o exterior. “Ainda estamos vindo numa inércia muito boa e ainda desconhecemos o que é crise”, afirma o diretor-presidente da Edra Aeronáutica, Rogrigo Scoda.

Sobre o Comitê, Scoda vê a iniciativa com muito bons olhos e muito oportuna a iniciativa. “Há muitos espaços para serem ocupados. Vejo a Fiesp como um grande polarizador do segmento e o Comitê vem para fomentar a exploração desse potencial”, avalia.

(Paulo Celestino)




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